Pobreza menstrual no Brasil
A falta de acesso a recursos, infraestrutura e/ou conhecimento para que as pessoas que menstruam possam ter os devidos cuidados referentes aos seus ciclos é uma das características marcantes da pobreza menstrual. A pobreza menstrual está presente na vida de milhares de pessoas que menstruam e vivem em situação de pobreza e/ou vulnerabilidade (urbana ou rural), muitas vezes sem ter acesso nem mesmo aos serviços básicos de saneamento. Além disso, a falta de conhecimento sobre o próprio corpo é um grande problema.
Essa falta de acesso aos serviços básicos vem de uma cruel negligência do Estado e violação de direitos que deveriam ser garantidos perante a Constituição.
Pilares da pobreza menstrual
A pobreza menstrual tem fatores determinantes que a perpetuam. São eles:
- Falta de acesso aos produtos adequados para o cuidado da higiene menstrual;
- Questões estruturais (ausência de banheiros seguros e em bom estado de conservação, saneamento básico e coleta de lixo);
- Falta de acesso a medicamentos para administrar necessidades menstruais e/ou
carência de serviços médicos; - Desconhecimento de informações sobre a saúde menstrual e de autoconhecimento sobre o próprio corpo e os ciclos menstruais;
- Tabus e preconceitos sobre a menstruação;
Cerca de 4 milhões de meninas sofrem com a falta de chuveiros em sua casa e também de privação de higiene no ambiente escolar; seja ele pela falta de acesso a absorventes ou instalações e itens básicos de higiene.
Pobreza menstrual no Brasil
Estima-se que 200 mil alunas estão totalmente privadas das condições básicas e mínimas para cuidar do seu ciclo menstrual no ambiente escolar.
900 mil meninas não têm acesso à água canalizada em casa e outras 6,5 milhões vivem em casas que não possuem ligação com a rede de esgoto; esses dados são alarmantes, e estão diretamente ligados à falta de dignidade menstrual dessas garotas.
É imprescindível considerar a desigualdade social, racial e de renda como fator contribuinte da pobreza menstrual, já que quanto menor é a renda e maior a desigualdade social, menores são as chances de que produtos de higiene menstrual sejam prioridade no orçamento familiar. Nessas situações, a prioridade sempre será a alimentação.
Dados
Conforme o estudo “Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos”, uma menina negra tem três vezes menos chance de ter acesso a banheiros do que uma menina branca na mesma condição.
Para esse estudo, foram usados dados do (IBGE) – por meio da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE) e Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF); com abrangência de 15,5 milhões de meninas brasileiras.
Aproximadamente 24% das meninas brancas moram em locais avaliados como não tendo serviços de esgotamento sanitário, enquanto quase 37% das meninas negras vivem nessas condições.
Essa ausência de condições sanitárias mínimas para cuidar da menstruação é uma violação gravíssima dos direitos humanos; e uma condição que afasta cada vez mais o Brasil do alcance dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável).
“A menstruação é uma condição perfeitamente natural que deve ser mais seriamente encarada pelo poder público e as políticas de saúde. Quando não permitimos que uma menina possa passar por esse período de forma adequada, estamos violando sua dignidade. É urgente discutir meios de garantir a saúde menstrual, com a construção de políticas públicas eficazes, com a distribuição gratuita de absorventes, com uma educação abrangente para que as meninas também conheçam seu corpo e o que acontece com ele durante o ciclo menstrual. É o básico a ser feito para que ninguém fique para trás”, comenta Astrid Bant – representante do UNFPA no Brasil.
Evasão escolar
Somado a todas as outras questões, a pobreza menstrual também está intimamente ligada à discriminação e estigma; o que em alguns casos é a causa da evasão escolar de inúmeras meninas.
Fonte: Patrícia Zanella, Bacharela em Relações Internacionais, Mestrado em Direito Internacional. Complementares: Sustainability Leadership Program: United People Global.
Redes internacionais que faz parte
– Vital Voices: única brasileira bolsista do Programa VVEngage para mulheres lideranças no setor público pelo avanço dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
– Embaixadora YouthLead/USAID: única brasileira selecionada para o 4th cohort de embaixadores do YouthLead, plataforma de oportunidades para jovens ao redor do mundo.
– World Movement for Democracy: Única brasileira selecionada para a Hurford Youth Fellowship Program
– Selecionada para o Young Leaders of America Initiative (YLAI)
– Finalista em Equal Rights no World Justice Forum, The Hague, 2022
Capa: Pexels
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