Estilo de vidaNotíciasOdontologia

De Salvador à Itália: solidariedade de uma dentista

Em Castel Volturno, Rosana Sales combina profissionalismo e solidariedade para ajudar migrantes

De Salvador à Itália: conheça a história de solidariedade de uma dentista brasileira

Com uma sólida carreira no Brasil e na Itália, a baiana Rosana Sales Nascimento Mendes encontrou no voluntariado uma forma de colocar sua experiência a serviço de quem mais precisa. Além disso, desde 2020, Rosana colabora ativamente com o Centro Fernandes, em Castel Volturno,na Itália, oferecendo assistência odontológica gratuita a migrantes.

Seu trabalho não apenas resgata sorrisos, mas também devolve dignidade e esperança àqueles que enfrentam condições extremamente adversas. A maioria dos migrantes vem da Nigéria e de Gana, embora também haja pessoas oriundas da África Subsaariana, da Europa Oriental e do Sul da Ásia. Esses migrantes chegam à Itália após perigosas travessias pelo Mediterrâneo, frequentemente precedidas por longas jornadas pelo deserto do Saara e períodos traumáticos em centros de detenção líbios.

A assistência odontológica gratuita oferecida por Rosana no Centro Fernandes não apenas alivia dores físicas, mas também simboliza uma nova chance de dignidade e acolhimento para esses migrantes em situação de vulnerabilidade.

De acordo com Rosana, o desejo de colocar suas habilidades profissionais a serviço dos outros e de contribuir para melhorar a vida das pessoas mais frágeis a impulsionou a embarcar no voluntariado.
“Minha maior satisfação é ver a alegria nos rostos dos pacientes quando recuperam o sorriso. Guardo muitas histórias emocionantes. Por exemplo, lembro-me em particular de um paciente que veio cuidar dos dentes e cerca de um mês depois entrou em contato comigo para pedir ajuda para uma consulta com um outro especialista, pois confiava na minha indicação. Após isso, ele realizou a visita médica, foi submetido a uma cirurgia. Felizmente, agora está ótimo”, conta emocionada a cirurgiã-dentista, formada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 1982, com título reconhecido
pelo Ministério da Saúde italiano.

A inspiração por trás do voluntariado

O espírito voluntário de Rosana foi moldado pela forte influência de sua família, que sempre esteve envolvida na vida cultural e social de Salvador. Desde então, ela vivenciou o exemplo de seus pais, que dedicaram grande parte de suas vidas ao trabalho voluntário. Oferecendo, assim, assistência no centro de apoio da igreja local. Além disso, a presença inspiradora de seu tio, um renomado advogado trabalhista, reforçou em Rosana a importância de defender valores e atuar em benefício da sociedade.

Mudança para Itália

“Meu tio foi uma figura inspiradora em nossa família, tanto por sua carreira como advogado quanto por sua paixão pela literatura mundial. Especialmente pelas obras europeias, que ele chegou a traduzir, como A Doce Vida, de Federico Fellini. Além disso, sua coragem nos marcou profundamente, principalmente durante a ditadura, quando precisou fugir do Brasil devido à sua atuação política. Essa história nos ensinou a importância de defender nossos valores e ideias, mesmo diante das adversidades”, contou ela. Rosana mudou-se para a Itália no final de 2008, motivada pelo desejo de estar ao lado de seu futuro marido, Bruno Marfé, engenheiro do “Comune di Napoli”. O casal se conheceu três anos antes, em Nápoles. Na época, Rosana estava realizando um estágio na Universidade Tor Vergata, em Roma. Durante esse período, a irmã de Bruno, que trabalhava na universidade, os apresentou em um fim de semana.

“África Europeia”

Apelidada de “África Europeia”, a cidade italiana de Castel Volturno, com aproximadamente 27 mil habitantes, tornou-se assim um polo de acolhimento para migrantes. Estima-se ainda que cerca de 10 mil imigrantes vivam na região, embora apenas 6 mil possuam status legal.

A cidade é marcada pela chegada de migrantes atraídos pela esperança de uma vida melhor. No entanto, a região também foi palco de tragédias impactantes, como o massacre de 2008, em que seis jovens africanos  perderam a vida pelas mãos do crime organizado. Evidenciando, assim,  os desafios enfrentados pelos migrantes. Por consequência, esse episódio inspirou um movimento de conscientização pelos direitos dos migrantes, intensificado pela memória da cantora e ativista Miriam Makeba, a “Mama África”.

Reconhecida internacionalmente, a cantora e ativista Miriam Makeba (1932-2008) à sua direita Antonio Casale. Foto: Arquivo Centro Fernandes/divulgação.
Reconhecida internacionalmente, a cantora e ativista Miriam Makeba (1932-2008) à sua direita Antonio Casale. Foto: Arquivo Centro Fernandes/divulgação.
Sobre o Centro Fernandes

O Centro Fernandes acolhe migrantes em situação de vulnerabilidade oferecendo hospedagem, alimentação e suporte. Com estrutura para primeira recepção, abriga também mulheres vítimas de tráfico e estudantes universitários. Reconhecido por sua atuação, promove integração social e sedia o Makeba Village, iniciativa cultural em homenagem à ativista Miriam  Makeba, reforçando assim a luta por igualdade e convivência.

“O prédio onde funciona o Centro Fernandes era originalmente uma casa de praia da tradicional família napolitana Fernandes-Naldi, que doou o espaço à Caritas de Cápua. Hoje, os herdeiros, como o Dr. Salvatore Naldi, continuam apoiando o trabalho, contribuindo com doações para a manutenção e melhorias do local, o que mantém, portanto, viva a missão humanitária do centro”, explica Rosana.

600 migrantes ao ano

De certo, considerado um dos polos mais significativos no campo da imigração, o centro atende cerca de 600 migrantes ao ano. Entre os exemplos inspiradores, destaca-se a trajetória do jovem Moustapha Konate, vindo da Guiné. No centro, ele aprendeu a língua italiana, conquistou o diploma de 1º grau e agora trabalha no aeroporto de Nápoles.

Centro Fernandes sedia o Makeba Village. Iniciativa cultural em homenagem à ativista Miriam Makeba, reforçando a luta por igualdade e convivência. Foto: Arquivo Centro Fernandes/divulgação.Brasil
Centro Fernandes sedia o Makeba Village. Iniciativa cultural em homenagem à ativista Miriam Makeba, reforçando a luta por igualdade e convivência. Foto: Arquivo Centro Fernandes/divulgação.

O Centro Fernandes, administrado pela Caritas de Capua sob a orientação da Diocese local, mantém assim um vínculo com o Brasil através do diretor Antonio Casale. Ele já visitou o país para conhecer as missões das Irmãs Servas da Imaculada, vivenciando de perto a realidade das periferias e a calorosa hospitalidade brasileira. Além disso, essa relação promove o intercâmbio de experiências entre os dois países, buscando, portanto, ampliar as práticas de solidariedade e fortalecer as ações humanitárias.

Fotos: Bruno Marfé e Arquivo Centro Fernandes/divulgação.
Assessoria de imprensa: Mídia Brazil

  • Além disso, siga Cristina Aguilera no insta

Leia ainda: Casa Museu Ema Klabin: agenda de março

Cristina Aguilera

Cristina Aguilera é jornalista com pós graduação em Mídias na Educação pela Universidade de São Paulo (USP) . Foi repórter de tv, rádio, revista, assinou colunas de Turismo e Moda. É co autora do livro “ A educação contada pela imprensa” junto com Cesar Callegari. Adora moda, turismo, educação, literatura, designer e cultura.

Artigos relacionados