Danilo Caymmi canta Tom Jobim
Em show intimista na Casa Natura Musical, Danilo Caymmi contará com a participação especial de Marinho Boffá, ao piano, e mostrará seu lado instrumentista, tocando flauta, como sempre fez nos concertos com o Tom Jobim.

O cantor e compositor Danilo Caymmi apresenta show em homenagem aos 60 anos da nossa Bossa Nova, celebrados no dia 25 de janeiro de 2018, e aos 90 anos de nascimento de Tom Jobim, comemorados em 2017.
O show também marca a estreia da turnê mundial de shows do novo CD Danilo Caymmi Canta Tom Jobim (Universal), com algumas das mais belas canções do grande maestro Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim.
As canções de Antonio Carlos Jobim são provavelmente o apogeu da música popular brasileira. É natural que nossa memória as mantenha numa espécie de céu, onde supomos que ficarão para sempre iguais a si mesmas. Difícil imaginar que novas interpretações possam trazer outra beleza a tais canções. Mas este é o caso singular e extraordinário do novo CD de Danilo Caymmi.
Foi Antonio Carlos Jobim quem insistiu para que Danilo cantasse com sua própria voz, em sua tessitura. E, graças ao encontro de ambos, temos a alegria de ouvir este CD, que passa a figurar instantaneamente entre os clássicos deste país pitoresco e extravagante, cujo nome começa com a letra b, de bye-bye, mas que ainda tem memória para exaltar os seus heróis musicais.
O CD começa com Bonita, canção cuja harmonia lembra desenhos de George Gershwin e de My Funny Valentine, de Rodgers e Hart, mas é ainda mais complexa e perfeita. Danilo interpreta as primeiras estrofes sem ênfase, como se falasse ao pé do ouvido da amada. No final, mostra a força de seus graves. Ela é carioca, com letra de Vinicius, ganha um preâmbulo ad libitum – isto é, com o ritmo oscilando ao bel prazer da vontade do intérprete. E, quando retoma a batida da Bossa Nova, Danilo a interpreta como uma canção dos anos 50, com harmonia do século 21.
Por causa de você é um samba-canção de 1957, anterior, portanto, à Bossa Nova. Danilo canta a letra de Dolores Duran com uma simplicidade absoluta, como quem apenas dissesse as palavras. Sua interpretação, em tom confessional, é tão magnífica quando à de sua irmã, Nana, embora as duas sejam completamente diferentes. Estrada do sol é um dos clássicos do primeirochansongbook de Tom e Vinicius, o disco Canção do Amor Demais, gravado por Elizeth Cardoso, em 1958. Danilo canta a canção a contrapelo, tirando-lhe toda e qualquer solenidade.
Em Chora coração Tom Jobim parece revisitar uma modinha do século XIX. Mas a harmonia é de um requinte impensável para a época. Segundo a Wikipedia, citando a Enciclopaedia Britannica, modinha seria uma “light and sentimental Portuguese song“, embora alguns musicólogos digam que foi inventada no Brasil. Danilo a interpreta com a dose certa de emoção e delicadeza.Água de Beber é um samba-jazz de Tom e Vinicius. Foi composta, segundo a lenda, em Brasília, em 1959, onde a dupla escrevia a Sinfonia da Alvorada, por encomenda do presidente Juscelino Kubitscheck. Depois de gravada por diversos jazzistas americanos, com sotaque pouco disfarçado, Água de beber encontra na inteligência musical de Danilo a compreensão da linguagem híbrida do samba-jazz.
Em Praias Desertas, Danilo é o anti-Elizete Cardoso, sem qualquer desdouro para a grande intérprete de Canção do Amor Demais. Danilo escolhe para interpretá-la um lugar entre o cool de João Gilberto e a canção praieira de Dorival. Querida foi despojada de seu ritmo de foxtrote. A harmonia ganhou em densidade, no esplêndido arranjo de Flavio Mendes. Geralmente, para um jobiniano fundamentalista como o escrevinhador destas linhas, mexer nas harmonias do Maestro é heresia passível de apedrejamento moral. Mas Flavio Mendes, no caso, alcançou a façanha de melhorá-la. E o violoncelo de Hugo Pilger é sempre impecável.