A evolução tecnológica no gerenciamento de nutrição animal
Tecnologias baseadas em dados têm revolucionado a maneira como fazendas gerenciam a alimentação de animais.
A evolução tecnológica no gerenciamento de nutrição animal
A engenharia agronômica, combinada com a gestão do agronegócio, desempenha um papel fundamental na produção agrícola moderna, especialmente em um cenário de crescente demanda global por alimentos e produtos agropecuários. Um dos grandes desafios, porém, é encontrar soluções que otimizem a nutrição animal, um componente-chave para melhorar a saúde e o rendimento dos rebanhos e garantir produtos de qualidade para o mercado.
Neste contexto, tecnologias baseadas em dados têm revolucionado a maneira como fazendas gerenciam a alimentação de animais, integrando softwares de monitoramento, sensores avançados, inteligência artificial (IA) e machine learning (ML) para fornecer insights detalhados e personalizados sobre a saúde e a produtividade do rebanho.
Entendo que a engenharia agronômica e a gestão de agronegócio são áreas que se complementam para aprimorar a eficiência no campo, considerando aspectos de manejo, sustentabilidade e rentabilidade. Isso significa que o profissional especializado em agronomia entende a complexidade das relações entre solo, planta e animal e busca integrar esse conhecimento com práticas de nutrição que beneficiem o rebanho e maximizem a produção.
A gestão do agronegócio, por outro lado, aplica princípios de administração para coordenar os recursos e decisões do setor agropecuário. No contexto de nutrição animal, isso significa desenvolver estratégias e soluções que otimizem custos e garantam resultados mais previsíveis. Essas áreas combinadas são ainda mais potentes quando aliadas a ferramentas tecnológicas, que permitem a coleta e análise de dados em tempo real, levando a um controle detalhado sobre o manejo nutricional do rebanho.
A revolução dos dados no gerenciamento de nutrição animal
Assim como em diversos outros mercados e áreas de atuação, o uso de tecnologias como sensores, big data e IA tem sido cada vez mais comum no setor agropecuário, proporcionando maior precisão e previsibilidade no manejo da nutrição animal. De acordo com um relatório da McKinsey & Company, a digitalização do agronegócio tem o potencial de aumentar a produtividade em até 25% e reduzir assim, os custos operacionais em aproximadamente 20%, impactando significativamente a nutrição e o manejo dos animais.
Entre as soluções tecnológicas disponíveis para gerenciamento nutricional, posso destacar:
Sensores e Dispositivos de Monitoramento:
Os sensores aplicados a coleiras ou estruturas de monitoramento remoto ajudam a captar dados sobre a ingestão de alimentos, padrões de ruminação, saúde digestiva e níveis de atividade dos animais. Segundo a empresa de tecnologia agrícola Allflex, por isso, o uso de sensores para monitoramento da ruminação e ingestão alimentar tem ajudado produtores a reduzir em até 15% o desperdício de ração e melhorar o desempenho reprodutivo dos rebanhos.
Software de Análise Nutricional:
As plataformas de software especializadas em nutrição animal permitem aos produtores ajustar as dietas em tempo real, com base em dados de desempenho e necessidades específicas de cada animal. Atualmente, a empresa alemã Nutreco, líder mundial em nutrição animal, aponta que fazendas que utilizam softwares de nutrição ajustada conseguem reduzir o custo da alimentação em até 10%, além de otimizar o ganho de peso e melhorar a eficiência alimentar.
Inteligência Artificial e Machine Learning:
Algoritmos de IA e ML analisam padrões de alimentação, comportamento e saúde dos animais, gerando insights preditivos sobre o que pode melhorar o rendimento do rebanho. Portanto, uma pesquisa realizada pela Universidade de Wageningen, na Holanda, destaca que fazendas que adotam IA para prever problemas nutricionais e adaptar o manejo alimentar dos animais reduzem as taxas de mortalidade e aumentam em 12% a produção leiteira.
Análise de forragens utilizando espectrofotometria de reflectância:
A análise de forragens por espectrofotometria de reflectância, conhecida como NIRS, é um método essencial para ajustar a dieta de ruminantes. Forragens, desse modo, além de fornecerem fibra, também são fontes de energia, proteína e outros nutrientes, e suas propriedades nutricionais podem variar bastante devido a fatores como região, clima e adubação. Com o tempo, essas características mudam, especialmente nas forragens armazenadas.
A análise NIRS é prática e rápida, pois oferece resultados instantâneos e pode ser realizada diretamente na propriedade, dispensando envio de amostras para laboratório. O método usa luz infravermelha para medir a reflectância da forragem e compara esses dados a curvas de calibração baseadas em grandes conjuntos de dados de análises anteriores. Em grandes rebanhos, ajustar a dieta rapidamente com NIRS pode evitar prejuízos e garantir a viabilidade econômica da produção.
Dados são a chave para decisões inteligentes e eficientes
A utilização de dados no gerenciamento de nutrição animal permite uma abordagem preditiva que antecipa necessidades e problemas, melhorando a saúde e o desempenho dos rebanhos. Ou seja, para se ter uma ideia, segundo a empresa de pesquisa MarketsandMarkets, o mercado global de agricultura de precisão, que inclui tecnologias de manejo nutricional, deverá crescer de US$ 7,6 bilhões em 2020 para US$ 12,9 bilhões em 2025, impulsionado pelo uso intensivo de dados no agronegócio.
Por exemplo, essa transformação se deve, em grande parte, à capacidade de análise avançada que permite aos produtores otimizar recursos e implementar práticas mais sustentáveis, reduzindo o impacto ambiental e as emissões de gases como o metano.
Exemplos de sucesso na implementação de soluções tecnológicas
Um estudo conduzido pelo Grupo CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) revelou que fazendas que adotaram tecnologias de monitoramento nutricional, assim, como os sensores e softwares de análise, tiveram um aumento médio de 18% na produtividade, além de uma redução de 15% nos custos operacionais associados à nutrição animal.
Outro exemplo de sucesso é o da DSM-Firmenich (antiga Tortuga), que fornece soluções de nutrição mineral e aditivos alimentares e colabora com produtores na implementação de programas nutricionais baseados em dados. De fato, os produtores que utilizam a linha de aditivos nutricionais da empresa relatam um aumento de até 20% na eficiência alimentar e melhorias no peso médio dos animais.
Conclusão
A integração de engenharia agronômica e gestão do agronegócio com tecnologias de monitoramento e análise de dados está redefinindo o setor de nutrição animal. Sobretudo, Ferramentas como sensores, software de análise nutricional e inteligência artificial permitem um controle mais preciso e personalizado do manejo alimentar, proporcionando benefícios econômicos e ambientais.
Acredito que, se continuarmos no mesmo ritmo, surgirão cada vez mais soluções inovadoras, como a nutrição personalizada por impressão 3D, por exemplo. Tal avanço pode fazer com que soluções como essa e várias outras se tornem acessíveis e sustentáveis, melhorando ainda mais a saúde e a eficiência dos rebanhos. Por essas e outras que o agronegócio brasileiro se posiciona como líder em eficiência e sustentabilidade, reforçando seu compromisso com a qualidade e segurança alimentar.
Sobre o autor:
André Luiz Marra é engenheiro agrônomo pela ESALQ/USP, com especialização em Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta e MBA em Gestão do Agronegócio. Com mais de 14 anos de experiência no setor, Marra possui um histórico de participação em simpósios e congressos relevantes, abordando temas como gado de corte e leiteiro, manejo de pastagens e iniciação científica, com destaque para sua apresentação no 16º Simpósio Internacional de Iniciação Científica da Universidade de São Paulo (USP).
Em sua trajetória, atuou como engenheiro agrônomo no Instituto Butantan, onde contribuiu para pesquisas científicas e a produção de imunobiológicos. Também foi pesquisador no Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) da ESALQ/USP, colaborando em projetos de economia aplicada voltados ao agronegócio. Desde 2020, é CEO e proprietário das empresas Marra & Marra Ltda. e SLOBODA&MARRA Ltda., que operam no comércio atacadista de insumos agrícolas e atua na consultoria de pecuária de corte, além de atuar na construção e venda de imóveis residenciais.
Fotos: Freepik / Divulgação
Por: André Luiz Marra
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