Artigo: gestão de resíduos
O engenheiro Pedro Lombardi Filho fala sobre a importância dos cidadãos na gestão de resíduos

Artigo: gestão de resíduos
A relevância do cidadão-gerador na gestão de resíduos
Os resíduos sólidos urbanos (RSU), popularmente chamados de lixo, são basicamente os materiais descartados em nossos lares — tanto nas cidades quanto no campo. Entre eles estão as sobras de alimentos (resíduos orgânicos) e os recicláveis, como, por exemplo, papéis, metais, plásticos e vidros, que são coletados pelos serviços das prefeituras municipais.
É importante destacar que, além desses, muitos outros tipos de resíduos são gerados nos municípios. Entre eles os provenientes da construção civil, dos serviços de saúde, das atividades industriais e agropastoris, bem como dos aeroportos, rodoviárias, processos de logística reversa e resíduos perigosos, entre outras categorias. Cada tipo possui um fluxo de gestão específico, o que evidencia a complexidade do tema.
Além disso, cabe a nós – cidadãos-geradores de resíduos – um papel fundamental em todo esse processo, que envolve geração, coleta, transporte e destinação final. Somos nós que determinamos a quantidade produzida, os tipos de resíduos destinados, se estão devidamente separados ou misturados, e seu destino final. Sejam eles encaminhados a aterros sanitários (por meio da coleta indiferenciada), ou destinados às centrais de triagem e beneficiamento, via coleta seletiva.
Índices de reciclagem no país
Prestes a completar 15 anos, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) reúne um conjunto de princípios, instrumentos, diretrizes, metas e ações que devem ser adotados pelo Governo Federal — em cooperação com estados, municípios e a iniciativa privada — para o gerenciamento adequado dos resíduos sólidos. Apesar disso, pouco se avançou na adoção de ações e medidas práticas que contribuam para a melhoria da gestão de resíduos no país.
De certo, os índices baixos confirmam essa estagnação: menos de 4,0% dos RSU coletados vão para as centrais de beneficiamento e triagem. E, mesmo entre os materiais separados, menos da metade é efetivamente reutilizada ou reciclada. No que diz respeito à destinação inadequada, cerca de 40% dos municípios brasileiros ainda utilizam aterros controlados ou lixões – práticas em desacordo com a legislação vigente, segundo dados da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (ABREMA), de 2022.
O que fazer para melhorar esses índices?
Ações governamentais voltadas à fiscalização e à gestão de concessões, avanços legislativos, melhorias nos sistemas de coleta, transporte, triagem e tratamento de resíduos — como compostagens descentralizadas, biodigestores e tecnologias térmicas — compõem uma gama de rotas tecnológicas já disponíveis para implementação pelo poder público e pela sociedade.
Apesar da complexidade do tema, nossa atuação como cidadãos-geradores é essencial nesse processo. Somos, de certa forma, os condutores desse conjunto de ações: ditamos o ritmo e a direção da gestão de resíduos. Decidimos quanto será gerado, de que tipo, se os materiais estarão devidamente acondicionados para garantir a segurança e eficiência dos coletores, e se seguirão o fluxo da coleta seletiva — onde os resíduos recicláveis, por possuírem maior valor agregado, são encaminhados às centrais de triagem para posterior segregação e beneficiamento.
Separação correta
Somos, portanto, agentes da transformação. A separação correta e os cuidados durante a geração dos resíduos dependem diretamente da nossa vontade enquanto cidadãos. A destinação adequada de óleo de cozinha, vidros, papéis e papelões permite o estabelecimento de fluxos individualizados – o que melhora significativamente a eficiência dos processos de reciclagem. Além disso, a separação da chamada terceira fração dos resíduos orgânicos — como frutas, legumes e verduras (FLV) — por meio de campanhas como a coleta dos baldinhos, viabiliza o encaminhamento desse material (que representa cerca de 50% dos resíduos urbanos no Brasil) a sistemas de compostagem ou biodigestores. Assim, transformam-se restos orgânicos em insumos para a agricultura e jardinagem.
Enfim, ainda há muito a ser aprimorado, mas é fundamental reconhecermos a importância do nosso papel e nos engajarmos com atitudes concretas, assim passaremos de cidadão-geradores de resíduos para geradores-cidadãos, protagonistas da mudança.
Sobre Pedro Lombardi Filho
Engenheiro formado pela Escola Politécnica – USP. Possui MBA em Gestão Ambiental – USP, mestrado em Ambiente Saúde e Sustentabilidade e doutorado em Saúde Global e Sustentabilidade, ambos na Faculdade de Saúde Pública – USP. Atualmente é pós doutorando no Instituto de Estudos Avançados – Centro de Sínteses Cidades Globais – USP. Além de pesquisador no programa Municípios Sustentáveis – USP.
Foto: J.A produções.
Assessoria de imprensa: Midia Brazil Comunicação
- Além disso, siga Cristina Aguilera no insta
Leia ainda: De Salvador à Itália: solidariedade de uma dentista