O novo ciclo da construção civil nos EUA
Movimento reflete as transformações demográficas e as exigências econômicas e sociais de uma população em constante mudança.

O novo ciclo da construção civil nos EUA
Nos Estados Unidos, o setor de construção civil vive um momento de reconfiguração estratégica. Mais do que grandes empreendimentos ou novos conjuntos habitacionais, o foco do mercado tem se voltado para a renovação da infraestrutura já existente, com atenção especial às reformas residenciais personalizadas, revitalização de condomínios antigos, conversão de espaços comerciais subutilizados, e projetos que priorizam acessibilidade, estética e eficiência energética. Portanto, este movimento reflete tanto as transformações demográficas quanto às exigências econômicas e sociais de uma população em constante mudança.
De acordo com o U.S. Census Bureau, mais de 80 milhões de residências nos Estados Unidos foram construídas antes de 1980. Muitas delas, ainda com estruturas originais, não atendem mais às demandas contemporâneas de conforto, segurança, sustentabilidade e acessibilidade. Por isso, o setor de home improvement (melhorias domiciliares) vem ganhando força: segundo dados da Harvard Joint Center for Housing Studies, os gastos com reformas residenciais ultrapassaram a marca de US$ 500 bilhões em 2023, com expectativa de crescimento nos próximos anos impulsionada por programas de incentivo fiscal e pela valorização do patrimônio individual.

Tecnologias inteligentes
Um dos segmentos que mais cresce nesse cenário é o de reformas personalizadas, impulsionado por um consumidor mais exigente e por uma mudança na percepção do lar como espaço de bem-estar, produtividade e identidade. Por outro lado, desde cozinhas planejadas até espaços integrados com tecnologias inteligentes, a personalização deixou de ser um luxo e se tornou uma necessidade — especialmente para quem trabalha em home office, convive com familiares idosos ou possui necessidades específicas de mobilidade.
Nesse ponto, ganha relevância o mercado de modificações voltadas à acessibilidade, principalmente com o envelhecimento da população americana. Estima-se que, até 2034, haverá mais idosos do que crianças nos Estados Unidos, conforme projeção do U.S. Census Bureau. Esse novo perfil populacional pressiona por adaptações como rampas, barras de apoio, banheiros acessíveis, corrimãos e iluminação adequada, tornando esse nicho um dos mais promissores da construção civil moderna.
Impacto ambiental
Paralelamente, observa-se a revitalização de condomínios residenciais antigos, sobretudo em regiões urbanas e suburbanas que enfrentam desafios de manutenção predial, obsolescência de fachadas, infiltrações e defasagem técnica das instalações elétricas e hidráulicas. Reformar condomínios se tornou não apenas uma medida de valorização imobiliária, mas uma resposta à necessidade de prolongar a vida útil das edificações com menor impacto ambiental, evitando demolições e desperdícios de recursos.
Outro movimento relevante é a conversão de imóveis comerciais em residenciais, fenômeno que ganhou fôlego no pós-pandemia. Com o crescimento do e-commerce e o modelo híbrido de trabalho, muitos escritórios e lojas deixaram de operar em suas formas tradicionais, abrindo espaço para retrofit e adaptações que transformam edifícios comerciais em apartamentos, lofts e unidades habitacionais mistas. Por exemplo, cidades como Nova York, Chicago e Miami já adotam políticas de incentivo a essas conversões como forma de combater a ociosidade urbana e gerar novas moradias.
Imóveis atualizados
No campo estético, as melhorias de fachada se consolidam como uma estratégia de impacto imediato na valorização dos imóveis. Revestimentos modernos, pintura de alto desempenho, paisagismo funcional e iluminação arquitetônica elevam não apenas o valor de revenda, mas também a percepção de segurança, conforto e modernidade. Em bairros residenciais, onde a aparência externa influencia diretamente o valor de mercado da propriedade, esse tipo de reforma se tornou uma prioridade entre os proprietários.
Por fim, o modelo de compra, reforma e revenda de imóveis (conhecido como house flipping) continua atraente tanto para investidores iniciantes quanto para empresas especializadas. Com foco em aquisições de baixo custo, reformas estratégicas e revenda rápida, esse modelo movimentou mais de US$ 70 bilhões em 2023, segundo dados da ATTOM Data Solutions. As oportunidades são ainda mais expressivas em estados como Flórida, Texas, Geórgia e Carolina do Norte, onde a demanda por imóveis atualizados supera a oferta disponível.
A construção civil americana, portanto, caminha para um futuro menos voltado ao novo e mais orientado à qualificação do que já existe. Profissionais da engenharia, arquitetura e design que souberem interpretar essas mudanças, propondo soluções personalizadas e de alto valor agregado, encontrarão um campo fértil de atuação — especialmente se aliarem experiência técnica à sensibilidade para as transformações sociais, culturais e ambientais que moldam o habitar contemporâneo nos Estados Unidos.
Conheça autor:
Leonardo Fogazzi Passuello é bacharel em Engenharia Civil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e atua no setor da construção civil há mais de 36 anos. É sócio-fundador da PASSUELLO & HOFFMANN LTDA, empresa com 35 anos de mercado, reconhecida pela solidez e confiabilidade na prestação de serviços voltados ao desenvolvimento imobiliário e à execução de obras alinhadas às demandas do setor.
Desde 2006, atua como Diretor Técnico de Engenharia Civil na LINEARE CONSTRUÇÕES e INCORPORAÇÕES LTDA, onde tornou-se sócio em 2024. A empresa opera no segmento de engenharia geral, com foco em projetos, responsabilidade técnica, planejamento, construção e gestão patrimonial, tanto para empreendimentos próprios quanto de terceiros. Ao longo de sua trajetória, Leonardo construiu uma carreira marcada pela excelência técnica, liderança estratégica e comprometimento com a qualidade em todas as etapas dos processos construtivos.
Fotos: Freepik / Unsplash / Divulgação
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Por: Leonardo Fogazzi Passuello
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