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Qinho canta Marina Lima com frescor e modernidade


O álbum Qinho canta Marina corria o risco de soar como anticlímax do projeto apresentado em 2016 com show em que o cantor carioca Marcus Coelho Coutinho, vulgo Qinho, aborda o repertório de Marina Lima, uma das mais perfeitas traduções de modernidade pop no Brasil.
Afinal, o show já existe há dois anos – assim como já existe, desde abril de 2017, o EP Fullgás com registros (de estúdio) de quatro músicas do roteiro desse show.
A rigor, o álbum ora lançado pela gravadora Biscoito Fino – em edição digital e em CD cujo encarte expõe texto avalizador da própria Marina Lima – é desdobramento do bom EP lançado somente nas plataformas digitais. Só que, às quatro músicas do EP, Qinho gravou mais seis que fazem toda a diferença e elevam a cotação do projeto fonográfico.
Capa do álbum ‘Qinho canta Marina’
Fernando Young
Se o EP é bom, o álbum é ótimo. Somente uma das músicas – Uma noite e 1/2 (Renato Rocket, 1987), ponto fraco do EP – perde a intenção original, soando sem a pegada solar na moldura eletrônica criada pela produção da dupla T.R.U.E., formada pelo próprio Qinho (voz e guitarra) com Gui Marques (teclados e bass synth).
No todo, os beats de Gui Marques e Carlos Sales (bateria) preservam a modernidade do cancioneiro de Marina, evocando os arranjos originais, mas sem se prender a eles, criando outra ambiência eletrônica para músicas como Virgem (Marina Lima e Antonio Cicero, 1987) e Acontecimentos (Marina Lima e Antonio Cicero, 1991).
Às vezes, a evocação do arranjo da gravação original é forte demais, como em Fullgás (Marina Lima e Antonio Cicero, 1984) e em Criança (Marina Lima, 1991), mas Qinho jamais canta Marina como se fosse cantor de barzinho habituado a fazer covers. Há personalidade na abordagem e também fina sintonia entre as intenções do cantor e o espírito dessas músicas já enraizadas na memória pop do Brasil.
Marina Lima avaliza o álbum de Qinho em texto publicado no encarte da edição em CD
Divulgação / Rogério Cavalcanti
A obra de Marina começou a ganhar ornamento eletrônico no álbum Fullgás, lançado em 1984, ano em que nasceu Qinho. Trinta anos depois, em 2014, o cantor dividiu o palco pela primeira vez com a compositora em tributo a Marina.
Ali, naquele tributo, nasceu uma afinidade que fez com que Qinho levasse adiante o projeto de cantar Marina, primeiramente em show e, na sequência, em EP que virou álbum cujo repertório inclui duas músicas – Me chama (Lobão, 1984) e Veneno (Veleno) (Alfredo Polacci, 1948, em versão em português de Nelson Motta, 1984) – que não são da lavra de Marina, mas das quais elas se apropriou com inteligência justamente no consagrador álbum Fullgás.
Qinho
Divulgação Biscoito Fino / Gabriela Perez
A opção de Qinho por manter intactas as arquiteturas melódicas de canções como Charme do mundo (Marina Lima e Antonio Cicero, 1981) e Nada por mim (Herbert Vianna e Paula Toller, 1985), esta turbinada com vocais, valoriza o álbum. Não há uma desconstrução feita em nome de suposta atualização da obra, mas tão somente uma abordagem mais contemporânea de À francesa (Cláudio Zoli e Antonio Cicero, 1989) e outras nove músicas.
Qinho não reinventa Marina e tampouco chega a repaginar a obra da compositora. Mas consegue a proeza de cantar Marina com frescor que se alinha com a natureza de cancioneiro desde sempre (e ainda) moderno. (Cotação: * * * *)

Editoria de Arte / G1
Fonte: http://g1.globo.com/dynamo/pop-arte/rss2.xml

Marcos Morrone

Nascido em São Paulo Capital. CEO do Grupo Morrone Comunicações Ltda.

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