A convergência da engenharia com a inteligência de dados

A convergência da engenharia com a inteligência de dados

Quando escolhi a Engenharia Industrial como profissão, há mais de uma década, minha motivação sempre foi resolver problemas complexos, otimizar processos e gerar valor para as organizações. Naquele momento, muito do nosso trabalho estava voltado para o chão de fábrica, para a melhoria contínua, para a eficiência operacional. Hoje, porém, a realidade é completamente diferente e profundamente mais desafiadora.

A Engenharia Industrial evoluiu e, com ela, o papel dos engenheiros também. Se antes éramos responsáveis por processos físicos e operacionais, hoje somos protagonistas na transformação digital das empresas, atuando diretamente na definição de estratégias de produtos, na expansão de mercados e na gestão de negócios orientados por dados.

Vivemos em uma era onde os dados são o novo combustível dos negócios. Nenhuma decisão estratégica acontece sem uma base sólida de informações estruturadas, analisadas e interpretadas corretamente. Nesse contexto, a aplicação de Inteligência Artificial (IA) e Machine Learning (ML) se tornou indispensável.

Na indústria de tecnologia, onde atuo há mais de 15 anos, a engenharia industrial não se limita a entender processos produtivos, ela se expande para interpretar grandes volumes de dados gerados por milhões de usuários, prever comportamentos, antecipar tendências e criar produtos que realmente façam sentido para o mercado.

A IA, por exemplo, nos permite analisar padrões de consumo, prever demandas e recomendar ações precisas para áreas de vendas, marketing e desenvolvimento de produtos. Já o Machine Learning é uma ferramenta fundamental para transformar dados históricos em insights preditivos, apoiando decisões como qual canal priorizar, que tipo de produto lançar ou como otimizar a jornada do cliente.

Estratégia de produtos e Go-To-Market na era da IA

No meu dia a dia, liderando iniciativas globais de Go-To-Market (GTM) e analytics na indústria de tecnologia, a inteligência artificial deixou de ser um diferencial para se tornar uma necessidade. Ao desenvolver uma estratégia de entrada de um produto no mercado, precisamos considerar centenas de variáveis. Quem é nosso público? Onde ele está? Quais são suas necessidades? Que canais consomem mais? Como nossa concorrência se posiciona? E, mais importante, como nossos dados internos validam essas hipóteses?

É nesse ponto que a engenharia, aliada à IA, se torna uma ferramenta estratégica. Implementamos frameworks de telemetria, que nos permitem acompanhar em tempo real o comportamento de milhões de usuários de nossos softwares e produtos. A partir desses dados, ajustamos desde o posicionamento de mercado até a definição de roadmap de desenvolvimento.

Esse processo não seria possível sem uma mentalidade orientada a dados. A engenharia industrial, combinada com ferramentas de IA e ML, nos permite sair do campo da suposição para atuar no campo da precisão.

A transformação dos negócios orientados por dados

O impacto da IA na indústria vai muito além da operação. Empresas que adotam uma cultura data-driven conseguem acelerar sua tomada de decisão, aumentar sua eficiência e, principalmente, criar propostas de valor mais alinhadas com a realidade do mercado. No desenvolvimento de produtos, por exemplo, usamos modelos preditivos para entender quais funcionalidades geram mais engajamento, quais segmentos estão mais propensos à conversão e até como otimizar campanhas de marketing digital.

Na estratégia de Go-To-Market, aplicamos algoritmos que analisam performance de canais, comportamento de compra e tendências de consumo, permitindo redirecionar investimentos em tempo real. E, na gestão de negócios, a combinação de IA, engenharia de dados e análise preditiva se traduz em decisões mais inteligentes, riscos calculados e crescimento sustentável.

Diante desse cenário, a pergunta que muitos profissionais se fazem é: qual é o papel do engenheiro industrial hoje? Minha resposta é simples: somos protagonistas da transformação digital. Nosso papel vai muito além de projetar linhas de produção. Nós projetamos negócios, sendo responsáveis por transformar dados em valor, alinhar tecnologia com estratégia e garantir que inovação se traduza em resultados concretos.

Se antes éramos especialistas em eficiência operacional, hoje somos especialistas em eficiência de negócios. E essa transformação exige, além do domínio técnico, uma mentalidade orientada para dados, inovação e, acima de tudo, para entender profundamente as necessidades dos clientes e do mercado.

O futuro já começou

A integração da engenharia industrial com IA, Machine Learning e ciência de dados não é mais uma tendência, é uma realidade irreversível. Empresas que adotam essa mentalidade estão na vanguarda da inovação e serão as líderes do mercado nos próximos anos.

Aos profissionais que estão entrando agora no mercado ou buscando se reinventar, meu conselho é claro: desenvolvam habilidades analíticas, estudem ciência de dados, compreendam como IA e ML podem ser aplicados aos negócios e estejam preparados para atuar como engenheiros, estrategistas, inovadores e agentes de transformação.

O futuro da engenharia é digital, é inteligente e, acima de tudo, é movido a dados. E nós, engenheiros industriais, estamos no centro dessa revolução.

Conheça o autor:

Lucas de Area Leão é engenheiro industrial formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com MBA em Gestão de Projetos pela Universidade de São Paulo (USP) e formação executiva em Inteligência Artificial e Machine Learning aplicada a negócios pela Stanford University. Possui mais de 15 anos de experiência na indústria de tecnologia, atuando nas áreas de estratégia de produtos, execução de go-to-market e gestão de negócios orientada por dados. Especialista em desenvolvimento de estratégias de mercado, analytics e posicionamento de produtos, construiu uma carreira sólida liderando projetos globais que impulsionam crescimento e transformação digital no setor tecnológico.

Fotos: Freepik / Divulgação

Por: Lucas de Area Leão

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