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Morre em Minas Gerais o dramaturgo


Morre em Minas Gerais o dramaturgo

Ele era natural do Rio de Janeiro. Neves era considerado um dos maiores dramaturgos brasileiros. Morre em Minas Gerais o dramaturgo, diretor, ator e escritor Joäo das Neves
Dramaturgo e diretor João das Neves volta aos palcos com texto do século XVI
João da Neves em entrevista ao Globo Horizonte em abril de 2017
Reprodução/TV Globo
O dramaturgo, diretor, ator e escritor João das Neves, um dos maiores nomes do teatro brasileiro, morreu nesta sexta-feira (24) em casa, em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, rodeado de parentes e amigos. Ele era natural do Rio de Janeiro, tinha 84 anos e foi também diretor do Centros Populares de Cultura (CPC).
Neves deixa duas filhas: Maria João, de 29 anos, com uma ex-companheira, e Maria Iris, de 17, com a cantora Titane, com quem era casado. O dramaturgo morreu de metástase óssea. O velório acontece na tarde desta sexta e a cerimônia de cremação será às 16h no Cemitério Parque da Colina, Região Oeste de Belo Horizonte.
O artista ganhou prêmios diversos como o Molière, Bienal Internacional de São Paulo, Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), Golfinho de Ouro e Quadrienal de Praga.
João das Neves em cena com o espetáculo ‘Lazarillo de Tormes’
Reprodução/TV Globo
Ele estreou em 1964 com o Grupo Opinião o espetáculo “Show Opinião”, reunindo no palco, em um protesto contra a ditadura, Nara Leão, Zé Keti e João do Vale.
Nos Anos de Chumbo, período de muita resistência do teatro brasileiro, a obra do João era concebida em um período de grande investigação e busca por novos modelos dramatúrgicos para flagrar a realidade instaurada pelo regime militar.
Fez teatro de rua com o CPC, do qual fez parte e, com o Grupo Opinião participou de uma série de montagens em teatros de arena. Foi neste período que apresentou sua primeira ruptura com o espaço cênico tradicional.
Quebrou o teatro por dentro ao criar para o espetáculo “O Último Carro” uma arena invertida em que a ação se desenvolve em volta do público que é deslocado para o centro da arena e fica inserido na ação. Em cartaz por cerca de dois anos, no Rio de Janeiro e em São Paulo, “O Último Carro” foi assistido por mais de 200 mil pessoas, tendo rendido inúmeros prêmios a João das Neves, como o Prêmio “Arte não catalogada” na 14ª Bienal de São Paulo.
O período em que esteve à frente do Grupo Opinião é marcado também por peças como “O Quintal” em que problematiza o golpe militar de 1964 e a atuação de três importantes polos das esquerdas nesse período: o CPC, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e a União Nacional dos Estudantes (UNE); “Mural Mulher”, em que João escreve sua dramaturgia a partir de entrevistas com mulheres de diferentes classes sociais e profissionais, apresentando a condição das mulheres brasileiras no período; “A pandorga e a lei” em que denuncia a tortura; e “Café da Manhã” que apesar de mais intimista transmite o clima de tensão de um país submetido à severa ditadura militar. João das Neves somente encerrou as atividades do Grupo Opinião com o fim da ditadura no Brasil, cumprindo o propósito do Grupo de resistir a este sistema.
Findado este ciclo João das Neves se muda para o Acre, onde mergulha no contexto da floresta amazônica e realiza um trabalho com atores não profissionais que gerou o espetáculo “Caderno de Acontecimentos” e resultou na criação do Grupo Poronga.
Posteriormente, escreve e dirige o espetáculo “Tributo a Chico Mendes” em que leva ao palco os conflitos e contradições resultantes do choque de costumes entre índios e seringueiros de um lado e latifundiários e governo, de outro. “Yuraiá – O Rio do Nosso Corpo” é sua última peça escrita no Acre, ainda inédita, e que retrata a saga do povo Kaxinawá que, iniciada na cidade de Rio Branco, sua capital, ganha corpo nos seringais e tem seu auge nas regiões mais afastadas da floresta amazônica, onde vive este povo contatado há mais de cem anos pelos brancos.
O dramaturgo João das Neves
Reprodução/TV Globo

 

Morre em Minas Gerais o dramaturgo
Homenagens e acervo
No fim de 2015, João das Neves dirigiu no Rio o infantil “A Lenda do Vale da Lua”, escrito por ele 40 anos antes. Na época, ele disse ao Globo Teatro que não via diferença em dirigir um espetáculo adulto ou infantil. “A única questão é que as crianças gostam de se envolver e interferir no que elas estão assistindo, elas vão muito de acordo com o próprio instinto. Por isso, é preciso que a peça seja aberta e esteja preparada para o improviso”, afirmou.
No ano de 2016, a obra de João das Neves foi tema de mostra no Itaú Cultural, em São Paulo. Na ocasião, houve uma apresentação da peça “Madame Satã”, escrita nos anos 80. A mesma peça com direção do dramaturgo voltou a entrar em cartaz em Belo Horizonte neste ano.
João das Neves doou seu acervo para a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). As obras estão atualmente no Setor de Coleções Especiais.
João das Neves celebra mais de 60 anos de carreira

 

Morre em Minas Gerais o dramaturgo
‘Lazarillo de Tormes’ é apresentado com roupagem atual pelas mãos de João das Neves
Leia a íntegra da nota de pesar da Fundação Clóvis Salgado
“A Fundação Clóvis Salgado lamenta, profundamente, o falecimento de João das Neves. Dramaturgo, diretor, ator e escritor, João das Neves foi figura fundamental para o fortalecimento das artes cênicas em todo o país.
Para o teatro, sua contribuição é imensurável, além de representar um novo fazer artístico, nos ajudando a ver o teatro como uma ferramenta de resistência, valorização e ressignificação da arte.
Seu legado irá perdurar em cada artista que o conheceu, pessoalmente ou não. Fecham-se as cortinas para João das Neves, mas o caminho do teatro segue a passos firmes, na luta, na resistência e na transformação artístico-cultural.
Aos familiares, amigos e admiradores, nossos sentimentos.
Fundação Clóvis Salgado.”

 

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Fonte: http://g1.globo.com/dynamo/pop-arte/rss2.xml

Marcos Morrone

Nascido em São Paulo Capital. CEO do Grupo Morrone Comunicações Ltda.

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